E o leite mal na cara dos caretas | Diários #10
Madonna, Filipe Catto, tetas divinas e muitas lágrimas
Diários é uma proposta de escritos pessoais e espontâneos, que compartilham um pouco mais do meu cotidiano e das vozes da minha cabeça.
Ler Tipo uma história de amor, de Abdi Nazemian, mudou algumas coisas em mim. E sim, a maioria delas está relacionada à Madonna.
Talvez isso não seja algo tão óbvio para outras pessoas, mas eu sou apaixonada pela rainha do pop. E, por ser uma das figuras mais importantes desse romance, eu também me apaixonei por ele e tudo o que me trouxe ao final da leitura.
Foi graças a Tipo uma história de amor que acabei fazendo uma tattoo da Madonna, referenciando a cena final de Erotica em minha canela. Graças a esse livro que reforcei algumas das minhas definições em vários aspectos, inclusive do que é amor (se você ler, vai entender o motivo). E foi graças a ele também que eu não consegui mais ouvir Live To Tell sem chorar.
Por se passar no fim dos anos 80, essa história tem um foco muito grande na epidemia de AIDS dentro da comunidade LGBT. E, em dado momento da trama, Live To Tell tem um papel importante na expressão de toda a dor vivida e dos vazios deixados.
Mas, ao invés de te falar a respeito, eu deixo nas mãos da própria Madonna. Exemplificando muito bem o que essa canção representa, a sua performance na Celebration Tour já é o suficiente para explicar a emoção que sinto só de ouvir os primeiros segundos dela.
Se você acha que eu chorei ao ouvir só um pedacinho da música antes de adicioná-la aqui, está muito certo. E, ao assistir o vídeo abaixo, talvez você entenda o motivo.
Outra música que tem me arrancado lágrimas ultimamente é Vaca Profana, na voz de Filipe Catto. Só que, dessa vez, é por motivos totalmente diferentes.
O timbre de Catto é característico, capaz de traduzir coisas que as palavras não conseguem. E, ao interpretar essa homenagem à Gal Costa, a música se torna uma celebração tão linda que eu não consigo evitar a emoção que me toma.
A música, que na verdade é do Caetano, se transforma nas mãos de Catto. Feito um clamor, a artista nos faz evocar com ela a tal deusa de assombrosas tetas e enaltecer a arte e o mundano. E, mais do que isso, também nos faz bradar em nome da transgressão e liberdade que tanto nos é negada.
E é daí que vem as lágrimas.
Porque, ao cantar para que a deusa deixe apenas o leite mal para os caretas, sinto que encontro coro para o meu não lugar no mundo. Sinto que, de alguma forma, esse leite bom é uma benção profana e libertadora para ser quem realmente sou, assim como para os meus pares. E os caretas, que nunca me aceitaram (e nem aceitarão), não fazem nem ideia do que é esta benção e esse privilégio.
Sabe a sensação de liberdade e vivacidade? A inconformidade com o que está dado? O direito a uma vida com mais propósito e alegria? A sensibilidade para sonhar e construir novos mundos? O encontro de conexões reais e profundas, e não uma superficialidade utilitária? E a possibilidade de ser verdadeiramente humano, e não apenas um fantoche do sistema?
Pois esse leite sagrado, meus queridos, é todo nosso. E vocês, caretas, jamais saberão o quanto ele é especial.
Parei para analisar toda essa emoção que sentia com ambas as músicas e percebi que, de alguma forma, ela vem de um lugar comum: a não conformidade.
Por um lado, a desolação da história de toda uma comunidade e as dores vividas pelo simples fato de serem quem são. Por outro, uma forma de transformar a dor em potência e uma celebração da diferença e da transgressão.
E, o mais importante, um lindo dedo do meio para quem tanto nos machuca.
Quem se pretende defensor da moral segue violentando e extinguindo quem não segue suas regras, e ainda mais os que demonstram sua oposição sem medo. Quem se diz “liberal na economia e conservador nos costumes” não consegue tolerar a audácia dos dissidentes, que comprovam como é possível ter uma vida mais livre e autêntica.
É por isso que eles nos odeiam. E é por isso que, para eles, só resta o leite mal.
Essa vaca profana, dona das divinas tetas, representa e abençoa a todos nós, desajustados e excluídos. Nós, artistas, inconformados e minorias sociais. Nós, que nos atrevemos a ver a vida de outra forma e não temos outra opção se não ir contra o status quo. E também todos aqueles que, por conta do preconceito e da negligência, foram tirados de nós.
E aí não tem jeito. As lágrimas voltam porque, através dessas duas músicas, consigo tanto materializar a dor de uma história quanto celebrá-la e honrá-la. Consigo manter a esperança e encontrar meu espaço, mesmo em um mundo que não gosta muito de mim. E, principalmente, consigo me conectar a tantos outros como eu e ver um futuro melhor à frente.
Por isso, quando mais um dia se inicia, eu faço questão de botar a voz de Catto em meus fones de ouvido. Começo o expediente cedo, mas me permito cantar e dançar ao som da música como se não houvesse amanhã. Ao chegar o refrão, deixo que o choro tome conta e brado junto com a cantora pelo leite todo em minha alma.
E, com mais gosto ainda, clamo pela chuva do leite mal sobre os caretas.
Hora do merchan
Eu tive um conto publicado na Ruído Manifesto! O famoso “tenho nem roupa pra isso”. Fiquei felizona com essa oportunidade e venho aqui trazer minha humilde obra pra vocês
Além disso, também me rendi ao TikTok e estou brincando lá na plataforma com vídeos que trazem trechos da minha newsletter e um pouco de vlogs bonitinhos também. Se estiver por lá, cola comigo
Indicações da V
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Já diria o poeta:
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Que texto lindo Virgínia! E obrigada pela indicação de Felipe Catto, amei demais!!