Alguns anos atrás, eu resolvi ler um pouco da obra de Piotr Kropotkin e ainda me lembro do espanto (e alívio) que senti quando ele apontou que, na verdade, seres humanos não são naturalmente egoístas. Eles são colaborativos.
Sim, você não leu errado. O maluco dizia que nós somos muito melhores do que dizem por aí e que o nosso instinto maior é o de colaborar uns com os outros, não o contrário.
Inclusive ele tem um livro chamado Mutualismo, no qual defende que, diferente do que dizia o darwinismo, a competição violenta não seria o fator principal para a evolução de uma espécie. Na verdade, ela só sobreviveria e evoluiria a partir da cooperação e do apoio mútuo entre os seres.
Que doideira, não?
Mas desde então eu tenho pensando muito nisso. Em como de fato somos seres sociais, em quanto dependemos do coletivo para nosso bem-estar e em como só chegamos até aqui porque não estávamos sozinhos (se chegamos bem, aí já é outra história).
Isso dialoga muito com o que a Rita Von Hunty já trouxe sobre essa ideia de que o ser humano é naturalmente competitivo. Ela aponta que esse trem de uma natureza instintivamente egoísta, ao contrário do que a gente acredita, é também um discurso socialmente construído e que tem muito mais relação com a nossa cultura e história do que, de fato, nossa biologia.
Às vezes eu ainda me questiono se não é inocência minha acreditar nisso. Às vezes, quando vejo o quão cruéis podemos ser enquanto espécie, duvido desses debates e abraço a ideia de que, no fundo, nós somos mesmo apenas um bando de monstros.
Mas aí, apesar de toda a dor de uma catástrofe, eu vejo uma onda de solidariedade se espalhar. Eu vejo um país inteiro tomado pela vontade de ajudar e de reconstruir, apesar dos pesares. E eu sinto o quanto a cooperação, enfim, consegue ser maior do que a barbárie.
E aí não tem jeito. Eu sou novamente tomada pela esperança de que a colaboração é mesmo algo intrínseco nosso.
Ainda é preciso falar sobre o quanto essa tragédia foi fruto da negligência dos responsáveis pela gestão pública, assim como ela também foi consequência de todas a destruição ambiental permitida nos últimos anos. Ainda é preciso falar do quanto esse sistema vai nos levar ao colapso, e de como é urgente repensarmos a nossa organização enquanto sociedade para nos adaptarmos ao que vem por aí. E nem sei como, mas sei que precisamos também falar sobre refugiados climáticos e como isso vai ser a nossa realidade daqui para frente.
Só que, além de tudo isso, também é preciso dizer o quanto somos potentes juntos. É preciso reconhecer os esforços de quem está na linha de frente e a disposição de quem ajuda com o que pode. É preciso, mais do que nunca, exercer a esperança e a luta, destacando o quanto o coletivo tem sido (e continuará sendo) a única forma de lidar com a catástrofe.
Por isso, a edição de hoje não é nada mais do que aquele abraço apertado de quem diz: você não está sozinho. Vamos lutar juntos e, principalmente, vamos exercer juntos nosso grande instinto que é a cooperação e a ajuda mútua.
Deixo aqui também um vídeo do Antídoto que, ainda que seja um pouco mais antigo, tem tudo a ver com o tema.
E por hoje é só. Fique bem, ajude quem precisa e mantenha a esperança viva. Nós precisamos dela.
Bora cooperar?
O Rio Grande do Sul precisa de toda a ajuda possível. Aqui tem algumas possibilidades para doações, caso você possa ajudar:
Faça uma doação para as cozinhas solidárias
Faça uma doação através da CUFA
Faça uma doação para as famílias do MST
Faça sua doação física através dos Correios e saiba mais aqui
Faça uma doação através do Instituto Vakinha
Além disso, aqui tem um compilado de informações e links que podem ajudar tanto quem quer ajudar quanto quem precisa de ajuda.
Indicações da V
Hoje eu quis falar sobre esperança. Mas, apesar de ser tão importante, ela está longe de ser o único sentimento que surge mediante essa catástrofe. A indicação de hoje é o outro lado do que nos toma enquanto sociedade, e que também é necessário:
Gostou do que leu?
Obrigada por me acompanhar até aqui!
Hoje não tem nada além do apelo: se possível, faça a sua contribuição em uma das possibilidades aqui de cima. De verdade.
Até a próxima ❤️
só sairemos do buraco climático em que nos metemos se colaborarmos uns com os outros. não há alternativa.
gostei! apesar se achar que o mundo não tem lá muito como ser recuperado, uma
parcela minha ainda acredita em nós como sociedade…