Diários é uma proposta de escritos pessoais e espontâneos, que compartilham um pouco mais do meu cotidiano e das vozes da minha cabeça.
A brisa em meus cabelos me pareceu diferente. O som das folhas e o cantar dos quero-queros me soou melódico como nunca. O calor do sol e o azul do céu me deixaram à beira das lágrimas. E o tempo, que parecia mais devagar que o normal, passou exatamente como deveria.
Me sentar naquele banco de frente para o mar, sem querer, acabou mudando muita coisa em minha vida. E ainda bem.
Porque, ao me deparar com a molecada na água e seus pais conversando enquanto aguardavam o fim da aula de surf, parece que algo em mim despertou. Ao reparar na moça sentada à sombra, aproveitando o fim de tarde para ler seu livro, eu percebi algo muito importante. E, quando vi uma família auxiliando na construção do castelo de areia de sua criança, fui invadida por um sentimento indescritível.
É como se tudo estivesse no seu devido lugar, sabe?
E aí foi inevitável pensar: como seria minha vida se eu pudesse fazer o mesmo? Como eu me sentiria se também viesse à praia em uma plena quarta-feira, às 4 da tarde, fora das minhas férias?
De começo, me parece impossível. Adiar as reuniões com os colegas e as leituras da faculdade para me sentar na areia enquanto vejo uma criançada que nem conheço aprendendo a surfar? Parar as demandas do trabalho e tirar uma horinha de pausa só para contemplar a vida?
Sem chance, irmão.
Imagina se eu realmente colocasse em minha agenda um horário para parar tudo e apenas me sentar de frente para o mar? Imagina se meus colegas me procurassem ao fim do dia para algo e eu dissesse “não posso, estou na praia”?
Mas então eu imagino. E um triplex gigante é alugado em minha cabeça.
Será que tudo iria por água abaixo se eu parasse um pouco para descansar? Será que eu me tornaria uma péssima profissional só porque eu terminei minhas demandas mais cedo para sentir um pouco da brisa marítima? E será mesmo que o mundo explodiria se eu me desse o direito de sentar na areia e apenas curtir a paisagem?
O que de tão ruim assim aconteceria se eu apenas me permitisse viver?
Outro dia vi um reels em que um menino fala para a mãe “isso que é vida!” quando eles estão na praia. E, por mais que a ideia do vídeo fosse fazer uma piada, me vejo obrigada a dizer que eu fico com a pureza da resposta das crianças.
Sim, isso que é vida.
Ter tempo para viver de amenidades. Poder parar e contemplar o mundo à sua volta. Se permitir desacelerar do ritmo frenético que nos é imposto e ir para a praia num fim de tarde de quarta-feira.
Isso é o que nos faz humanos. Isso é o que nos traz sentido. E isso é o que eles não querem que a gente sinta.
Após tantos anos ouvindo “trabalhe enquanto eles dormem”, parece até contra intuitivo pensar em descanso. Em um mundo em que até o lazer precisa ser produtivo e seguir cronogramas, é impossível pensar em se entreter apenas com uma aula de surf alheia.
Mas a beleza da vida está mesmo nos pequenos detalhes. E, em uma realidade cada vez mais automatizada, se torna muito potente só aproveitar o seu tempo para se humanizar com o barulho do mar.
Sim, menininho do reels, isso que é vida. E é justamente isso que quero pra minha.
Gostou do que leu?
Obrigada por me acompanhar até aqui!
Essa edição eu escrevi ainda em agosto, quando voltei de uma viagem de férias de Ubatuba. Preferi deixá-la pra esse começo de ano, em que volto pra cidade e vivencio exatamente a mesma coisa que conto aí em cima.
Acho que combinou, não?
Me conte nos comentários o que achou desse texto e deixe seu coração pra ele também! Adoro saber que minha arte chega até as pessoas e cumpre seu papel de sementinha.
Lembrando que eu continuo falando umas bobagens lá no instagram, caso queira me acompanhar. Pode chegar que eu vou adorar te receber!
E se um dia descobríssemos que as ‘amenidades’ não são amenidades?
Esse texto remexeu tanto por aqui! Deu uma coisa por dentro seguida de uma vontade de gritar "é isso!!!". Tenho pensado muito sobre qualidade de vida, temática do meu trabalho, principalmente no quanto que eu tenho priorizado desenvolver ações de qualidade de vida no trabalho e deixando de lado os meus momentos, a minha qualidade de vida. Essa semana simplesmente me permiti viver, sentir, sem ter que produzir ou absorver algum conhecimento... e foi tão bom!