O básico do básico | Diários #11
Quando o corpo precisa me lembrar de que ele também pulsa
Diários é uma proposta de escritos pessoais e espontâneos, que compartilham um pouco mais do meu cotidiano e das vozes da minha cabeça.
Hoje eu precisei tomar um banho durante o horário de trabalho.
Sem muito motivo, uma angústia tomou conta de mim logo pela manhã. Comecei o expediente já com pouca energia e, aos poucos, isso só se tornou ainda pior. Fui ficando cada vez mais incomodada com a minha própria pele, como se minha existência por si só fosse um grande problema.
Não consegui fazer nada além de me sentir horrível por um bom tempo. E, mesmo tentando me animar com músicas ou me distrair com outras demandas, eu ainda não sabia elaborar e me desvencilhar dessa sensação terrível de angústia.
E foi aí que senti uma vontade visceral de tomar um banho.
Até aproveitei e levei alguns produtos de limpeza para o banheiro, usando esse tempo também pra dar aquela esfregada gostosa no box inteiro. E com isso, mesmo que eu ainda estivesse em horário comercial (trabalhando até um pouco mais tarde para compensar), eu consegui tomar um senhor banho, fazer uma faxina e, quem diria, me sentir um pouco melhor comigo mesma.
Assim, sem muita explicação, a angústia foi embora junto com a água. E eu enfim me senti confortável em minha própria pele de novo.
Isso poderia ser um texto em defesa do home office, afinal, eu só consegui fazer isso graças à flexibilidade de horário e local de trabalho.
Mas, mais do que isso, acho que esse texto é sobre entender o que o seu corpo pede.
Nem sempre eu consigo entender de onde vem determinadas sensações. Nem sempre eu sei do que se trata tal sentimento ou o motivo por que algo me tomou justo naquele momento.
Mas é curioso como o meu corpo sempre sabe que, independente de motivos ou razões, é preciso fazer algo a respeito. E melhor ainda: ele me dá indícios do que é.
Um banho, um aconchego ou uma comida específica. Um novo lugar, um novo hobby ou retomar o que deixei para trás. Um novo tipo de cuidado, um diazinho de cremes esfoliantes ou até mesmo aquele famoso mergulho na piscina. Um chamego, um toque.
Um pouco mais de vida.
Meu corpo sempre me direciona e me lembra de que eu também preciso do básico do básico. Às vezes envolve o tato, com banhos e toques, ou às vezes envolve o paladar, com comidas e sabores. Às vezes, ele está mais visual e me pede pôr-dos-sóis e cores, e às vezes é tudo sobre os sons que os pássaros fazem ou como a música me movimenta.
Independente da forma, ele tem o seu jeitinho especial de me dizer que, por mais que o intelecto também seja importante, ele não está separado da carne. E que, quer queira ou não, eu também preciso suprir as vontades instintivas e viscerais que ela tem.
Por isso, aproveito a flexibilidade que tenho para fazer o que o bonito me pede. Trabalho até um pouco mais tarde para compensar esse momento e deixo a água correr por todo o corpo para me lembrar de que a pele também pulsa - e também demanda.
As últimas semanas foram uma pequena montanha-russa de emoções por aqui.
Fui pra São Paulo assistir ao musical Priscilla, A Rainha do Deserto e, pouco depois, teve um feriado prolongado no estado em que pude realmente não pensar em trabalho. Descansei, curti, amei, separei roupa pra doação, cozinhei…. enfim, me senti muito viva e muito bem.
Depois de toda essa descarga de boas sensações, parece que o meu corpo não gostou muito do platô sem graça da rotina de sempre. Em busca de um gostinho de quero mais, ele me pediu por prazeres imediatos e recompensas de curtíssimo prazo, me jogando em uma espiral de fast food, scroll infinito no celular e um bocado de culpa internalizada.
Confesso que tem sido difícil quebrar com esse ciclo. Resolvi fazer uma espécie de detox de redes sociais e segurar nos sabores mais palatáveis, na tentativa de equilibrar um pouco as coisas. Mas, como ele não é bobo nem nada, o cérebro continuou incomodado com o quão devagar as recompensas vinham, e todo o meu corpo respondia a isso de uma maneira péssima.
Acho que é daí que veio toda essa angústia. Me sentir desconfortável em minha própria pele talvez foi como o corpo conseguiu sinalizar o quanto o cérebro está passando por uns perrengues, e que eu vou precisar de alguns estímulos diferentes pra balancear as coisas e deixar o danado mais tranquilo.
Por isso, meu atual projeto é buscar novos tipos de estímulos que, diferente da lógica frenética que conhecemos, me ajudem a desacelerar e a respeitar as demandas do meu corpo. Papos profundos, comidas artesanais, conexões sinceras e leituras lentas. Mais olho no olho, mais abraços, mais lágrimas e mais memórias. Mais tédio e menos distração.
Mais presença.
Vamos ver até onde isso vai me levar. O sei é que, quando o bicho pegar e angústia rolar solta, ao menos eu ainda posso contar com um bom banho.
Indicações da V
Prepara o coração e vem conhecer algumas das leituras que mexeram comigo nos últimos dias, ó:
Gostou do que leu?
Obrigada por me acompanhar até aqui!
Me conte nos comentários o que achou desse texto e deixe seu coração pra ele também! Adoro saber que minha arte chega até as pessoas e cumpre seu papel de sementinha.
Lembrando que eu continuo falando umas bobagens lá no instagram, caso queira me acompanhar. Pode chegar que eu vou adorar te receber!
Eu me identifiquei com essa sensação de angústia que você teve, mas no meu caso é ansiedade. O interessante é que no meu caso fazer uma faxina também ajuda bastante, banho nem sempre dá certo mas dá uma melhorada. Acho que é porque distrai os pensamentos, sei lá
o banho sempre me salva também. mas ontem meu corpo pedia movimento, e eu atendi. preparando uma carta sobre isso.