O influencer way of life | Mergulhos #07
Reproduzindo lógicas que eu nem sabia que estavam em mim
“Mergulhos” tem a proposta de apresentar um pouco mais do que rola aqui do meu lado da tela e compartilhar indicações que me comovem no dia a dia, buscando um diálogo mais direto com você, pessoa leitora, e um mergulho em novas possibilidades.
O canto da sereia 🧜♀️
Oi seguimores! Muitos de vocês tem me perguntado sobre…
Brincadeiras à parte, percebi uma coisa um tanto interessante nesses últimos dias que queria trazer por aqui. E, confesso, o faço com um pouco de vergonha.
Enquanto tava passando o meu creminho na cara e cuidando do piercing novo (veio aí!), reparei que eu estava explicando para o espelho o que usava e o motivo de ter escolhido aquele produto. E o pior: o fazia em inglês.
O mesmo aconteceu depois que passou pela minha timeline do Youtube um daqueles vídeo Open Door, em que celebridades mostram suas casas milimetricamente perfeitas. E, mesmo não consumindo esse tipo de produção, eu ainda imaginei como seria a casa que gostaria de apresentar e o que eu diria sobre ela.
Além disso, no meu tempo livre, me pego pensando no tipo de vídeo que gostaria de produzir para plataformas como Youtube ou Tiktok, mesmo que eu não tenha muita pretensão de ser “criadora de conteúdo”. Mas é aquilo: depois que vejo algo desses formatos, fico pensando “como seria o meu? O que eu diria? O que eu mostraria?”.
Inclusive, nos últimos dias, percebi que isso tem vindo com ainda mais força.
Sem saber como usar o meu tempo livre, tenho me distraído com vídeos aleatórios do Youtube, coisa que não é tanto assim do meu feitio. Mas, já que estou tentando diminuir o uso do Instagram, acabei colocando o vermelhinho no lugar sem querer.
E não é que, quanto mais coisa eu vejo, mas eu me pego emulando os trejeitos dos vloggers à minha frente? Quem diria que, quanto mais consumo esse tipo de conteúdo, mas eu me vejo reproduzindo a lógica deles, né?
Não me leve a mal, alguns conteúdos na internet são puro ouro e seus criadores merecem muito uma remuneração digna pelo seu trabalho. E acompanhar esse tipo de produção, inclusive, me faz acreditar demais num espaço online melhor e menos distópico.
O problema está quando, mesmo não sendo do meio, eu me vejo reproduzindo maneirismos e fingindo que também estou falando com a Vogue enquanto faço meu skincare. O problema é que, ao começar uma receita nova, por exemplo, me vejo falando pra ninguém como eu a faço e emendando piadinhas à respeito.
Me peguei fingindo estar numa produção de conteúdo eterna, mesmo que isso não seja verdade. Me peguei sendo uma “influencer” de mentirinha, como se treinasse para o dia em que me torno uma ou, pior ainda, fazendo esse teatrinho todo apenas para ter um gostinho do que é essa vida online.
Sabe toda aquela história do American Way of Life? Toda a ideia espalhada aos quatro ventos sobre o quanto um estilo de vida tipicamente americano (e capitalista) seria incrível e desejável? Acho que ele tem se adaptado ao formato dos tempos atuais, trazendo consigo esse jeito influencer de ser. Um pouco menos de casas com cerca branca, um pouco mais de cultura de empreendedorismo e uma comunicação totalmente padronizada.
E que, no fim, continua vendendo a mesma coisa: pura ideologia.
A cultura de celebridades vai se modificando para atender aos novos consumidores, mas, no fim, é tudo sobre te vender um estilo de vida de luxo que ninguém deveria ter. E o pior: ao trazer essa relação de comunicação mais direta e parecer mais autêntico, essa lógica de influencer e redes sociais ainda nos deixa mais autocentrados e egocêntricos.
Afinal, por que diabos eu precisaria dizer sobre os produtos que uso pra alguém? O que isso mudaria na vida das pessoas? Qual a importância de saber que meu creme tem ingrediente X ou Y, sabe?
A vida até pode ser incrível, mas não significa que todo aspecto dela é tão interessante assim. Isso, inclusive, eu acho uma libertação: quanto menos “interessante” ao sistema, menos temos o que vender - e mais o que viver.
A internet se tornou um grande shopping e, sem perceber, a gente tá reproduzindo essa lógica até nas nossas casas. O que usamos, o que comemos, o que fazemos, tudo precisa ser comerciável, mesmo que a gente não o faça diretamente.
E olha, eu tô cansada dessa merda.
O grande desafio agora é parar de explicar no espelho o que estou fazendo, como se estivesse em um vídeo da Vogue, e aproveitar esse tempo pra fazer o que tem de mais humano possível: um monte de nada.
Tem peixe nesse mar 🌊
Recomendações que fogem um pouco dessa sensação de shopping e que se assemelham mais ao que a internet deveria ser realmente:
Adotar é tudo de bom
Esses dias eu fui acompanhar minha sogra num dos eventos mais fofos possíveis: um mêsversário de três doguinhos. Fizemos fotos lindíssimas desses neném antes deles ficarem disponíveis pra adoção, olha que delícia!






Ainda no tema de influência
Pra variar, vou trazer o último vídeo do Ora Thiago que tá ligado demais com esse papo de influencer.
Um doc daqueles
O Normose fez um doc muito completo sobre a história do Rubens Paiva e deixo aqui pra que a gente não se esqueça e não deixe tempos sombrios como esse se repetirem.
Leituras incríveis pra sua semana
Bora encerrar com algumas edições aqui do Substack que me chamaram atenção e que valem demais a sua também?
Gostou do que leu?
Obrigada por me acompanhar até aqui!
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Lembrando que eu continuo falando umas bobagens lá no instagram, caso queira me acompanhar. Pode chegar que eu vou adorar te receber!
As vezes me pego ansiosa (tipo agora, aguardando meu companheiro sair do mercado) e fico pensando em como vamos moldando nossa mente e nosso inconscientemente neste novo jeito de viver, automatizando processos que nem queríamos, reproduzindo modelos sem consciência, pois estamos imersos nesse caldo cultural sem começo ou fim. E fico tentando imaginar onde isso vai dar. Ou melhor, já está dando 😵💫