Já ouviu falar sobre Will Ramos?
O vocalista da banda Lorna Shore tem sido pauta em vários reacts pelo Youtube afora – e não é à toa. A galera está ensandecida com tudo que essa voz pode fazer e, principalmente, o quão inumana ela pode parecer.
E os youtubers não são os únicos pirando nesse vocalista.
Graças à Will Ramos, Lorna Shore se tornou minha nova obsessão musical. Seja durante o trabalho, quando vou lavar a louça ou até na virada de ano, essa é a banda que tem feito a minha trilha sonora e, de alguma forma, dialogado diretamente com minhas entranhas.
Não sei porquê, mas tem algo de especial em ouvir uma voz que deixaria até o diabo meio intimidado.
Mas sabe qual a parte mais divertida dessa história? É que o cara por trás dos gritos de goblin do Satanás é a simpatia em pessoa. Basta ver qualquer vídeo com ele pra perceber que é tanta energia de labrador humano que, no fim, dá até vontade de guardar num potinho, de tão fofo.
Não tem como negar: conhecer Lorna Shore e Will Ramos graças aos reacts do Youtube foi, realmente, uma grata surpresa em minha playlist.
Eu só não contei que, sem querer, isso também seria uma voadora no peito da minha vida artística.
Além de destruir nos vocais, Will Ramos também é um cara versado num bom storytelling. E, em busca de um entretenimento maroto, outro dia resolvi botar uma entrevista dele e ouvir umas histórias antes de começar no trabalho.
E esse foi o meu erro.
O problema nem foi vê-lo contar sobre ter crescido em Nova Jersey como um típico “scene kid” ou seu amor pelas raízes porto-riquenhas. Também não foi por saber de sua adolescência de rolezinho no shopping, de suas tentativas de imitar vocalistas que admirava ou mesmo os instrumentos aleatórios que aprendeu a tocar ao longo da sua trajetória.
A questão aqui é que, tirando Nova Jersey e Porto Rico, essa história me é familiar demais para não sentir o baque.
E nem para por aí, viu. Porque Will também conta que já fez aulas de escrita criativa, que morria de vontade de apresentar seus poemas para a professora de Inglês e até sobre sua tentativa frustrada de fazer faculdade, mesmo sabendo que não era ali que estava sua carreira dos sonhos.
Eu me vi tanto nisso tudo que, se fosse um bingo, eu já tinha até fechado cartela.
Tudo bem que eu não andei de skate ou tive seis piercings pela cara, como ele relata. Também não tive bandas de deathcore ao longo da minha história e, no máximo, tentei imitar cantoras de ópera e não vocalistas extremos. Mas, ainda assim, são tantos pontos de similaridade que, no fim, ficou impossível não me identificar com essa jornada.
E por isso mesmo que o tombo foi tão grande.
Porque, em dado momento dessa entrevista, Will Ramos fala um pouco mais sobre como foi sua trajetória enquanto músico, sobre seu desejo em seguir essa carreira e do que foi preciso abrir mão para realizar esse sonho.
Ele vai um pouco além e, falando da importância da prática e evolução contínua de um artista, reforça como é preciso ser persistente para alcançar o que se almeja. E, por mais que ele aponte como não é nada fácil seguir nessa vida, ainda considera que, às vezes, tudo que é preciso é um “salto de fé”.
Se jogar. Arriscar. Persistir e se dedicar. É isso que Will traz como fundamental para tirar seus sonhos do papel. E que, para enfim se ver vivendo da própria arte, às vezes é preciso abandonar antigos trabalhos, tentar a sorte e acreditar no próprio potencial.
E sabe o que me pega nisso tudo? É que eu ouvi essa parte da entrevista justo uns minutos antes de começar o primeiro expediente de 2023. O expediente de um trabalho que, por melhor que seja, só faço porque nunca tive coragem de dar qualquer salto e tentar viver de arte.
Pois é.
Galvão? Senti. E senti pra caralho.
Creio que minha relação com a arte não é nenhuma surpresa por aqui.
Já contei anteriormente sobre meu sonho de escrever livros na beira da praia e como isso é parte de quem sou. Também já falei sobre processo criativo, sobre todas as linguagens artísticas que experimentei ao longo da vida e, quem diria, até sobre minha busca maluca por possíveis pseudônimos.
Costumo dizer que não sou apenas artista, sou também uma obra de arte. Eu respiro e vivo por essa sensibilidade e visceralidade que apenas ela é capaz de me dar.
E é aí que mora o grande impasse.
Porque, ao contrário do que eu gostaria, meus dias não são nada artísticos. Eu acordo, trabalho, cumpro com as minhas obrigações e, nas horas vagas, tento uma migalha ou outra de criatividade para não sucumbir. E, mesmo me esforçando e me nutrindo de inspiração, as coisas não fluem tão bem quanto o esperado.
Apesar de toda a vontade e necessidade de expressão, tem hora que simplesmente não dá. Depois de um dia cansativo de trabalho e de uma noite entre aulas da faculdade, que corpo aguenta sentar a bunda na cadeira e ainda escrever um romance? Como dar conta de acordar cedo, trabalhar, estudar, arrumar casa, botar comida na mesa e ainda se empenhar em ser uma boa artista?
Daí me lembro do tal “salto de fé” do Will Ramos e sou obrigada a concordar com ele. A inquietação, aquela sensação de não-lugar no mundo, ela nunca se cala. Mas, infelizmente, conciliar a dedicação que a criação artística exige com uma jornada de 40 horas semanais vai se tornando cada vez mais insustentável.
Chega um ponto em que, infelizmente, não tem jeito. Ou é um, ou é outro.
O único problema é que, diferente dele e de tantos outros artistas que admiro, eu não tenho a coragem de dar esse salto. Por mais que meu coração implore por isso, eu sou incapaz de tomar uma decisão tão importante. E, querendo ou não, fica difícil buscar oportunidades para mudar este cenário quando eu mal consigo manter uma rotina criativa.
Acaba que os boletos pagos falam mais alto e, sem muita opção, eu continuo minha vida apenas sonhando com esse maldito salto de fé que não consigo dar.
Covarde demais para tentar a sorte, eu finjo que escrever uma vez por mês e arriscar uma cantoria no chuveiro são suficientes para que eu me sinta artista. Eu me convenço de que fiz a melhor opção ao manter o caminho do trabalho formal, mesmo sentindo um vazio descomunal aqui dentro.
E, assim, eu vou deixando morrer em mim a única coisa que me faz sentir viva.
Decido encarar o abismo que me convida para um salto e sinto a barriga gelar. As pernas até bambeiam ao ver o tamanho da queda, principalmente porque não é possível ver o fundo lá embaixo.
Será que realmente vale a pena?
Algo me diz que sim. Mas, por enquanto, é o medo quem manda e me mantém apenas na beira do precipício.
Então me lembro por uma última vez das palavras de Will Ramos. Do quanto ele fala sobre seu processo e do tempo que levou até que as coisas chegassem onde estão. E, de alguma forma, percebo uma coisa.
Ramos dificilmente chegou aqui beirinha e, do nada, se jogou nesse abismo que é a vida artística. Pelo contrário: o que ele conta é que, desde os 14 anos, está nessa loucura que é aprender e aperfeiçoar uma técnica antes de dominá-la. Foram necessários muitos anos de prática e preparo para que, ao chegar a hora, ele estivesse pronto para dar o seu salto de fé e encontrar a tão sonhada realização.
E só então me dou conta.
Começo a mexer um pé e depois o outro. Levanto um braço aqui, puxo uma perna acolá. Vou dando uns pulinhos idiotas, elevando um pouco mais a frequência cardíaca e alongando esses músculos meio travados.
Não, eu não estou nenhum pouco pronta para dar o caralho do meu salto de fé.
Mas quer saber? Não custa nada já ir dando uma aquecida.
Gostou do que leu?
Obrigada por acompanhar o meu trabalho!
Talvez você tenha percebido que eu não linko mais o meu perfil do Twitter por aqui. É que, depois de uns 13 anos de uma relação um tanto tóxica, eu enfim consegui deletar minha conta. Saio pra caminhar umas duas vezes ao dia pra tentar esquecer a vontade de ver memes de lá? Sim. Mas, hey, já é um bom começo!
Eu também falo outras bobagens lá no instagram. Pode chegar que eu vou adorar te receber!
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Eu me vi nas suas palavras. Tá louco, obrigado por isso.
Cara... deixa ver se consigo organizar minhas ideias, pra não parecer pessimista demais rs... acho lindo o tal "salto de fé", mas rola tanta romantização... eu dei esse salto, e ele é tão sofrido quanto ficar à beira do precipício. Não me arrependo, e não voltaria atrás - o que deixei estava me matando. Mas entendo e respeito muito o seu medo. Os boletos continuam chegando, e aí você descobre que viver de arte implica em vender a sua arte (ou seja, estudar mercado, fazer marketing, pedir penico kkkkkkkkkkkk). Não dá pra saltar 100% desguarnecida, não. Enfim, esse papo é muito longo pra um comment só... mas espero de coração que você encontre um caminho que não mate o que te faz viva. <3